domingo, 29 de abril de 2018

A alienação da dialética, por

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INTRODUÇÃO As verdades só são fecundas se forem ligadas umas às outras. Henry Poincaré (1) Que senso norteia o método dialético para extrair suas conclusões? Quem foram seus principais formuladores, além do faminto e criativo Platão? Que influência ele exerceu na reinauguração da cientificidade, no século XVI? Como a Matemática e, por consequência a Física arrastou não só a Engenharia, a Arquitetura, ou até mesmo a Medicina, mas também a Filosofia, a Sociologia, a Psicologia, Biologia, Antropologia, a Economia, até o Direito? Que formulações daí emanadas seriam fortes para acender, inclusive, o fogo do ódio entre os povos? Infelizmente todas as ciências, especialmente as humanas e, por consequência a política, amarram-se nessa ingênua metafísica. Por ela escorregaram Platão, Maquiavel, Galileu, Bacon, Descartes, Newton, Hobbes, Rousseau, Bentham, Mill, Proudhom, Hegel, Malthus, Darwin, Ricardo, Freud, Comte e Marx. Felizmente, todavia, no limiar do século XX, vimos esta mais antiga receita de averiguação e prática de lêdo engôdo ser completamente abandonada, flagrada em falsidade de base e propósito pela própria ciência exata que a consagrara. No século XXI, o da maioridade civil, as disciplinas de humanidades começam a promover sua mutação. As informações, outrora truncadas, herméticas, enfeixadas, mistificadas, censuradas por perigosas, ou de acesso dificultado, são desvendadas ao mundo dos normais. O cidadão comum vê emergir, apesar de uma infinidade de mitos e obstáculos dogmáticos, a majestosa reversão científica que, sob os auspícios do gênio, modifica nosso entendimento simplesmente sobre tudo. A velocidade das comunicações, a qual já não conhece tempo, nem barreira, sequer distância, indica que o político terá que ser sua imediata expressão, sob pena de triste fim. Trouxemos esses dados, afirmações e considerações após navegar dez anos por diversos mares e galáxias, em variadas circunstâncias; mas, na carona da luz, qualificamo-nos a deslizar instantaneamente pelo espaçotempo, à cata dos subsídios e relações capazes de reduzir ou mesmo 4 dissipar dúvidas, indagações ainda não completamente safisteitas. Pelo caleidoscópio investigativo atendemos a recomendação do velho químico Gaston Bachelard PhD, para quem “um conhecimento mais profundo é sempre acompanhado de uma abundância de razões coordenadas.”(2) Todas as razões são poucas para preencher tão profundo ardil. O tema permite e até requer um volume triplicado; à velocidade, todavia, preferimos compacto, de alta densidade. O canal pode ser tratado. O motivo seria inócuo, se a dialética e os episódios que deu causa se tivessem resumido àquelas parcas épocas, mas não: os intelectos desses monstros sagrados da ciência combinaram-se para empurrar a humanidade ao precipício da insensatez, do massacre coletivo, desde as peripécias de Cromwell até ao oportunismo de Napoleão, emergente de uma sangrenta Revolução travestida de democrática e daí às guerras civis e mundiais que se sucederam. Embora o linchamento de Mussolini e a queda do muro, infelizmente suas perfídias não se extinguiram; e até hoje impregnam muitas constituições, sempre conservadas e até aprimoradas pelo poderoso de plantão como ferramenta ideal para a dominação total, objetivo de todo “partido”. A permanência desses obtusos pré-fabricados torna-se indesculpável. Mais do que nunca, é possível atingir suas subterrâneas e camufladas bases pseudo-científicas, raízes de onde emanaram as ervas daninhas e o podre odor suavizado pel.666.1’89+as gotas dos seus falsos ideais. Chegaremos mais próximos da reorganização e de um reacomodamento natural, paradoxalmente, lançando um cocktail desintegrativo na torpe novela que dimensionaram. Como disse Ortega Y Gasset, “o homem que descobre uma nova verdade científica precisou, anteriormente, despedaçar em átomos tudo o que aprendera, e chega à nova verdade com as mãos sujas de sangue do massacre de mil superficialidades”. (3) À guisa de atenuar a forte tonalidade das comparações, apropriamonos das palavras de Albert Einstein... “Se, no que se segue, eu vier a expressar minhas idéias um tanto dogmaticamente, será apenas em nome da clareza e da simplicidade”-(4) ...consignando, entretanto, a ressalva: diferentemente do gênio, não apresentamos, de modo direto, novas idéias - o livro é menos escrito por nós, muito mais pelos vultos; mas atiramo-nos na chance de reuni-los. Com você, a insensatez, a alienação provocada pela dialética, acrescida de algumas de suas mais graves consequências epistemológicas, sociais, econômicas, ecológicas, políticas, jurídicas, éticas e morais .



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5. A tolice de Descartes

 A perfídia dialética varou os séculos riscada por governantes e
eclesiásticos, perfazendo trágicos destinos aos povos; Ficasse aí
resumida, poderia ser mais facilmente extinta, bastando impedir novas
aventuras megalomaníacas. Porém, há mais outro pormenor daquela
maternidade, muito vigente, com alguns rebentos ainda em expansão! - a
dialética antes atinge as ciências exatas pela lógica, pelo número, pela
matemática, retornando às humanas armadas para subjugá-las
inapelavelmente, estratégia de Platão. A mathésis universalis*
constituia-se na antena da sapiência:
 “O radical da palavra grega “mathemática” é mathein, que quer dizer
captar, aprender, apanhar. A captação é mathéma (ou mathésis) de que
deriva a nossa palavra matemática, designando não uma construção
mental, mas uma captação de uma realidade já existente.” (1)
 Acrescenta Russell: “O que ocupava a mente dos filósofos matemáticos
de modo mais especial era a unificação da aritmética e da geometria,
problema finalmente resolvido com grande brilho por Descartes, dois mil
anos depois.” ( 2 )
 René Descartes (1596-1650) de Vienne, na época com 27 anos,
considerado fundador dessa moderna filosofia. Veio com aquela
intenção, de encher o homem. Malgradas escassas advertências,
ascendeu fulgurante; e com slogan de libertador! Finalmente a ciência
racional poderia “desenvolver-se para extrair verdades seja de que
assunto for” (3), como auguravam Platão e Bacon. Observa Koyré:
 “Ocorre que para Aristóteles a geometria era apenas uma ciência
abstrata. Por isso, a geometria nunca poderia explicar o real. As suas
leis não dominam o mundo físico. O estudo da geometria não precede o
da física. Uma ciência do tipo aristotélico não se apoia numa metafísica.
Conduz a ela, em vez de partir dela. Uma ciência tipo cartesiana, que
postula o valor real do matematismo, que constrói uma física
geométrica, não pode dispensar uma metafísica. E tem mesmo que
começar por ela. Descartes sabia-o. E Platão, que fora o primeiro a
esboçar uma ciência desse tipo, sabia-o igualmente.” (4)
 A simploriedade mental de Descartes sentenciava:
 “Toda a filosofia é como uma árvore cujas raízes são a metafísica, o
tronco a física, e os galhos que saem desses troncos são todas as
outras ciências, que se reduzem a três principais – a medicina, a
mecânica e a moral.” (5)
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Para fundar tamanhos pilares, o francês mergulhou no universo da
precisão querida. Com o decifrar, com o cálculo, por ironia, Descartes se
persuadiu; e induziu a humanidade a subir, degrau por degrau, à
cobertura da inútil torre, a nova babel que ainda sobe, a “Rebabel”,
razão do Clero refutá-la; afinal, a Bíblia trata do Verbo, não do número.
A marôta fêz-se totalmente prejudicial:
“Nenhuma disciplina poderá outorgar para si própria um lugar de onde
deduzir um saber absoluto e final. Quando as ciências, a prestigiosa
matemática ocupou este lugar, revelou-se então mais mutiladora do que
a rainha!” (6)
Lemkow assinala o aspecto mais desumano que constatou: “Descartes
sustentava que não apenas os vegetais e os animais, mas também o
próprio corpo humano eram máquinas.” (7).
 O “homem” surgido dessa obtusa racionalidade fez-se ambíguo: “objeto”
para o saber e “sujeito” que conhece. Japiassu acrescenta: “A antiga
oposição homem/Deus substituía-se pela oposição homem/mundo.Melhor
ainda: pela oposição Sujeito/Objeto.” (8)
Damásio define:
“Qual foi, então, o erro de Descartes? Ou, melhor ainda, a que erro de
Descartes me refiro com ingratidão? Poderíamos começar com um
protesto e censurá-lo por ter convencido os biólogos a adotarem, até hoje,
uma mecânica de relojoeiro como modelo dos processos vitais. Mas
talvez isso não fosse muito justo, e comecemos, então, pelo “penso, logo
existo”. (9)
 O que não pensasse não poder existir? Ou, como ironiza Russel: “De
outro modo, poderíamos dizer igualmente “Ando, logo existo”, pois, se
ando, é certo que devo existir.” (10)
 Ao elementar equívoco, o próprio Damásio contrapõe “No entanto, antes
do aparecimento da humanidade os seres já eram seres.” (11)
No que consiste o método? Responde-nos Gilles-Gaston Granger:
"Convém efectivamente distinguir dois pólos de todo irredutíveis da idéia
de método. Um corresponde às noções de ´receita´, ´procedimento´,
´algoritmo´, que descrevem detalhadamente a concatenação do que
deve ser feito. O outro corresponde ao conceito de estratégia, que não
fornece necessariamente uma indicação particularizada dos actos a
cumprir, mas somente do espírito dentro do qual a decisão deve ser
tomada e do esquema global no qual as acções devem decorrer... o
aspecto principal parece ser o método como estratégia." (12)
 Como Platão, Maquiavel e Hobbes, o francês também exibia tudo
dividido, configurado numa sobreposição hierarquica, parte por parte, tal
qual o Universo para ele se mostrava: “Não há nada no conceito de
corpo que pertença a mente, e nada na idéia de mente que pertença que
ao corpo” (13).
 Dois século após, Hegel, sem a menor originalidade, numa espécie de
vulgata epistemológica, usou o mesmo princípio, até para se valorizar:
“Ser é ser pensado”. (14)
 O poeta e ensaísta Octavio Paz relata seu diálogo com Joseph Brodsky:

Segue link para pesquisa na íntegra

https://bibliopedra.files.wordpress.com/2015/09/alienac3a7c3a3o-da-dialc3a9tica-a-cezar-ramos.pdf